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Um Pouco de História, Presente e Futuro.

Um Pouco de História, Presente e Futuro.

A poesia popular, enquanto literatura oral já existe há mais de 3.500 anos. No Brasil o cordel chegou, trazido de Portugal, onde era vendido como "folhas soltas", mas foi com um poeta nascido em Pombal, que ele ganhou celebridade. Foi Leandro Gomes de Barros quem primeiro passou a editar e comercializar, no final do século XIX, o folheto na forma tal como temos atualmente, por isso ele é considerado o patriarca dessa expressão popular e a Paraíba é tida como o berço da literatura de cordel.

O cordel que era vendido nas barracas das feiras livres pendurado em cordões e recitado ou cantado pelos poetas violeiros para atrair os compradores, hoje sofre dos males do esquecimento e do abandono, explicado pelo advento da era tecnológica e assimilação desenfreada da cultura estrangeira. Ele já foi, no interior do Nordeste, o jornal, a música, o lazer de um povo que se reunia nos salões ou terreiros das casas para fantasiar histórias lidas por aqueles que dominavam os códigos da leitura e servia também para alfabetizar tantos outros que as vezes sabia de cor folhetos famosos. O hábito de ler cotidianamente o cordel fez surgir no Nordeste poetas de expressão como Patativa do Assaré e revelar ao mundo uma música inigualável de Luiz Gonzaga, valores que sintetizam a grandiosidade da nossa arte popular.

O cordel precisa sobreviver e voltar a ser uma cultura de massa tal como antigamente. Certamente alguns poetas continuarão nas feiras, outros levarão suas obras às bancas de jornal, livrarias, outros ainda procurarão utilizar os recursos da mesma era tecnológica que ajudou a sucumbi-lo - como o rádio, jornal, tv e agora mais recentemente a internet - para fazer chegar aos quatro cantos do mundo a imponente cultura nordestina.

Contudo, acreditamos que a literatura de cordel só poderá se transformar numa cultura de massa a partir do momento que a escola passar a estimular o seu uso, ou seja, a comunidade escolar (alunos, professores, funcionários) adotar o hábito da leitura. Quando a escola procurar conscientizar a todos da real necessidade de se preservar o cordel enquanto saber histórico, estaremos caminhando em direção a sua revitalização.

Levar a literatura de cordel até a escola significa oferecer um importante e motivante meio de educação aos alunos dos ensinos fundamental e médio. Através da poesia popular o aluno poderá conhecer aspectos da história do nordestino, pois o cordel retrata a cultura, o cotidiano, a realidade do povo e suas peculiaridades. Mas pode versar sobre qualquer assunto e ser utilizado como recurso pedagógico para debater temas relacionados à educação escolar como cidadania, solidariedade, preconceito, discriminação racial, consciência ambiental, espiritualidade, ética, educação sexual, combate às drogas, violência, condição social da população, amor ao próximo...

Ter o cordel nas bibliotecas das escolas pode representar um passo extremamente valioso para o devido reconhecimento e resgate desse tipo de literatura e dar à nova geração a oportunidade de apreciar a riqueza e expressividade da nossa cultura. Significa observar o contato do passado, da memória do saber tradicional, do conto poético numa linguagem ao mesmo tempo simplória e bela, de fácil compreensão e de uma engenhosidade singular observada na construção dos versos e rimas. A escola tem que obrigatoriamente prestigiar a cultura popular, caso queira preservar a sua própria história. E demonstrar preocupação na manutenção do saber é assumir e incorporar a sua rotina o contato com as manifestações que o povo cultiva, que apresentam significância e um visível potencial pedagógico. A literatura de cordel é uma dessas manifestações que devem e precisam ser utilizadas no ambiente escolar.

Enquanto livro paradidático ou leitura suplementar o cordel pode conduzir o leitor a uma viagem fascinante, a um universo textual completamente diferente do habitual onde a rima é um dos elementos que atrai, que desperta a curiosidade além de suscitar a sensibilidade artística.

No espaço escolar o cordel poderá ser usado para estimular a criatividade. Como é uma leitura que pode ser cantada, acompanhada de um ou vários instrumentos musicais como viola, rabeca, sanfona, violão, pífano, zabumba, flauta, pandeiro ou outro de interesse do professor, vemos a riqueza da sua utilização. Indiretamente há um incentivo à aprendizagem de determinado instrumento musical, ao próprio canto e à estimulação da educação rítmica, mesmo para aqueles que não queiram estudar ou compor música. Finalmente pode-se orientar os alunos a produzir histórias, o que de fato mais contribuirá para que sejam revelados valores e com isso fazer perpetuar em nossa região o estigma de lugar dos grandes poetas. ou

Por ser confeccionado com material simples, o folheto de cordel tradicionalmente teve preço acessível e as pessoas de baixo poder aquisitivo sempre tiveram oportunidade de adquiri-lo. Hoje falta divulgação para que ele seja conhecido pelas novas gerações, além de políticas públicas de incentivo.

Adquirir títulos com o objetivo de serem distribuídos aos alunos da rede pública de ensino, bem como a sua aquisição para o acervo das bibliotecas das escolas, poderiam ser iniciativas dos governos que muito iriam contribuir nessa tarefa de promoção do cordel. Outro meio seria a realização de concursos no interior das escolas, patrocinados com a incumbência de revelar talentos onde os vencedores poderiam ter as suas obras editadas.

Na escola o aluno deveria ser estimulado a ler, compor, conhecer as rimas, os tipos de versos, assim como estudar e criar a própria xilogravura e o professor ter oportunidade de participar de cursos sobre cordel para poder ter melhor embasamento para trabalhar com os alunos.

Francisco Diniz

Texto publicado em 2004 no livro:
SOARES, João Joaquim e outros. Educação por Meio do Esporte - Projeto Social Vivenciado na Escola Pública, João Pessoa-PB, Gráfica Santa Marta, 2004.

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