Brinquedos
Autor: João Joaquim Soares
Tratar do BRINQUEDO é discorrer sobre um tema atraente e polêmico, ao mesmo tempo. A própria literatura especializada não chegou a sistematizar com clareza até onde, por exemplo, brinquedo e jogo, brinquedo e brincadeira se assemelham e se diferenciam um do outro. Como distingui-los em seus pontos de identidade e de divergência? É o que, de início, nos propomos a debater.
"Brinquedo é objeto que serve para divertir a criança", diz o dicionário Larousse. Se formos pesquisar um dos mais conhecido dicionário brasileiro, o de Aurélio Buarque de Holanda, encontraremos um pouco mais. São quatro os significados que ele atribui ao brinquedo: a) "objeto que serve para as crianças brincarem"; b) "jogo de criança e brincadeiras"; c) "divertimento passatempo, brincadeira"; d) "festa, folia, folguedo, brincadeiras".
Passemos aos especialistas. No fim do século XIX, um historiador das coisas lúdicas, Henri René d'Allemagne, procurando caracterizar os brinquedos pelo significado que eles encerram, diz: "o brinquedo corresponde a uma das necessidades da vida social. Onde estiver a criança lá estará o brinquedo, que é o primeiro instrumento da atividade humana (...) o brinquedo, tal como se apresenta, oferece um objetivo a alcançar: ele foi concebido tendo em vista uma das mais especializadas destinações, e deve preencher uma ou mais das condições essenciais, quais sejam: ser divertido, útil, bem feito e ter um custo acessível, sem se esquecer que ele deve ajudar a desenvolver a criança em termos de corpo, espirito e sentimento."
Outro francês, estudioso do artesanato, Pierre Calmettes, escrevendo em 1924, já ensaiava uma distinção entre brinquedo e jogo, associando primeiro à prática individual e o segundo à prática coletiva: "uma bola, por exemplo, se brincarmos sozinha com ela, teremos tão-somente um brinquedo: se porém, a lançarmos para outra pessoa, teremos constituído um jogo".
Já a historiadora francesa Marie-Madeleide, define brinquedo como: "objeto individual, a partir da imaginação infantil que cria regras essencialmente momentâneas variáveis e fantasiosas".
A preocupação de distinguir brinquedos, jogos e brincadeiras um do outro, é também algo dos especialista brasileiros. O conhecido folclorista Câmara Cascudo enumera vários sinônimos de brinquedo: "jogos, rondas, divertimentos tradicionais infantis, cantados, declamados, ritmados ou não, de movimento etc. Brinquedo é ainda o objeto material para brincar, carro, arco, boneca e soldados. Também dirá a própria ação de brincar. Brinquedo de dona de casa, de cabra-cega, de galinha gorda (dentro d'água), de chicote queimado. Jogo é vocábulo erudito em via de aclimatação pela propaganda da ginástica educacional. Até poucos anos, o jogo subtendia baralho, dados, fichas e pedras".
Já Alceu Maynard, outro expoente em estudos de folclore, preferiu enfatizar o aspecto de gratuidade que envolve o uso do brinquedo, estabelecendo uma dicotomia entre brinquedos e brinco ou brincadeiras: "Seria brinquedos aqueles em que não há disputa, brinca-se por brincar, joga-se por jogar: (brincar de boneca, perna-de-pau, cata-vento, papagaio, peteca, etc.). Outra acepção de brinquedo é objeto com o qual se realiza o jogo, o entretenimento. Brincos (ou brincadeiras) seriam aqueles jogos em que a disputa, provocam o desejo de ganhar, de vencer: (bolinha de gude, jogo de castanha, pinhão, futebol). O brinquedo às vezes, uma só criança pode realizá-lo".
O brinquedo se constitui, antes de mais nada, em um objeto. Isso quer dizer que ele é palpável e finito, materialmente construído, podendo as formas de seu processo de criação variar desde os artesanais até aqueles já inteiramente industrializados. Assim sendo, o brinquedo distingue-se nitidamente do jogo e da brincadeira, já que estes últimos se manifestam com muito mais intensidade através de uma ação do que através de um objeto.
CLASSIFICAÇÃO DOS BRINQUEDOS
Inspirando-se numa classificação das técnicas de Rogers Pinon, etnólogo francês, apresenta uma minuciosa descrição com base em subdivisões sistematizadas para os brinquedos, tendo assim as seguintes classificações:
· Classificação segundo o sexo;
· Classificação segundo a idade;
· Classificação segundo a concepção ideológica;
· Classificação segundo os conteúdos pedagógicos;
· Classificação segundo a confecção;
· Classificação segundo a fonte de inspiração (criatividade);
· Classificação segundo a imitação. Este, podemos constatar que existe na natureza social, as mais variadas formas do brinquedo se apresentar, sendo:
* Brinquedos que exprimem meios elementares de ação sobre a matéria:
Sólida - utensílios; líquida - moinho d'água;
Ar - pipas;
Exercícios de força e destreza - bola, correr.
* Brinquedos que imitam meios de transporte:
Humano - cestas;
Animal - cavalo, burros;
Deslizamento - trenós, bicicletas, pequenos automóveis, trens;
Tração e direção - rédeas, arcos;
Navegação - barcos, navios;
Aéreos - avião, foguetes;
Vias de comunicação - telefone, televisão, computador, rádio.
* Brinquedos que imitam técnicas de fabricação:
Sólido estáveis - blocos e cubos;
Sólidos maleáveis - areia, balão;
Sólidos aglutináveis - tintas e colas;
Sólidos e leves - papel, fitas, cordas, ráfia e tecidos.
* Brinquedos que imitam técnicas de aquisição:
Dispositivo de defesa - lanças, arcos, flechas;
Caça e pesca - armadilhas, laços;
Instrumentos de agricultura - enxadas, pá, regadores.
* Brinquedos que imitam técnicas de consumo:
Alimentação - marmitas, tachos, panelas;
Absorção - pratos, colheres, xícara, garfo, cachimbo;
Vestuários e acessório - chapéu, patins guarda-chuvas;
Habitação - construções de casa;
Mobiliário - cadeiras, armários; iluminação - candelabros, velas, candeeiros;
Aquecimento - fogões;
Limpeza - vassouras, lixeiras.
* Brinquedos que imitam elementos do meio natural:
Vegetal - árvores, flores, ervas;
Animal - gato, cachorro, boi;
Humano - bonecas (os).
* Brinquedos que imitam práticas artísticas:
Pintura - livro de colorir;
Música - guizos, apitos;
Teatro - marionetes, fantoches;
Cinema - lanterna mágica.
* Brinquedos relacionados com a imitação da vida religiosa ou cerimoniais: igrejas, máscara, árvores de natal, etc.
* Brinquedos inspirados no mundo sobrenatural: Gigantes, bruxas, caixa de surpresa.
* Brinquedos como instrumento do acaso, tais como: dados, cartas, etc.