Revisitando o lúdico no saber popular
Autor Prof. Ms. Joaquim Soares
Texto extraído da Dissertação de Mestrado - Revisitando o lúdico no saber popular:
as brincadeiras infantis populares na escola pública
Um dos objetivos da pesquisa foi de investigar as variações regionais das brincadeiras, e o que se descobriu, por exemplo, na região canavieira, que é cortada pela estrada de ferro, o brinquedo cantado O trem de ferro, é bastante difundido entre as crianças. Historicamente a ligação entre Paraíba e Pernambuco foi muito estreita e economicamente o Estado da Paraíba dependia, quase na sua totalidade, de Pernambuco, sendo o trem o meio de transporte da tornan-se como exemplo: " o trem de ferro prá chegar em Pernambuco / vai fazendo, vuco, vuco / até chegar no Ceará / rebola pai, rebola mãe / rebola filha / eu também sou da família / também quero rebolar." As crianças ficam em fileira, um é escolhido para ser a máquina e os outros são os vagões, vão cantando e a fila vai se formando. As questões rítmicas são bastante exploradas e a noção de direcionalidade também tem um tratamento especial quando é praticada. Em relação a aproximação com os conteúdos, podemos fazer a interdisciplinaridade com as áreas de História e Geografia para explorar esta atividade.
Outro brinquedo cantado bastante praticado pela criançada é Fui a Espanha. Quando a letra declara que "... fui à Espanha / buscar meu chapéu / azul e branco / da cor daquele céu..." Esta ida a Espanha, tem um significado histórico, o que representa o período da colonização do Brasil, pois a chegada dos espanhóis trouxe influencia na construção deste brinquedo cantado. "... olha a palma, palma, palma / olha pé, pé, pé / olha roda moreninha / caranguejo peixe é / caranguejo não é peixe / caranguejo peixe é / caranguejo só é peixe / na enchente da maré.." Neste trecho, pode-se identificar a região onde esta brincadeira surgiu, ou seja, é região praieira, principalmente nas cidades de João Pessoa, Lucena e Cabedelo. Quando, o discurso se volta para uma visão mais regional, percebe-se que a Bahia é ressaltada na letra da música, pois foi aquele estado berço da colonização brasileira. "... samba crioula que vem da Bahia / pega a criança e joga na bacia / a bacia é de ouro / areado com sabão / depois da areada / enxugada com um roupão. / o roupão é de seda / camisinha de filó / touquinha bordadinha / para quem virar vovó a benção vovó/ a benção vovó."
Atualmente muitas melodias das cantigas de roda são aproveitadas na alfabetização. Exemplificando temos a brincadeira "ba, be, bi, bo, bu" que, como outras, pode sofrer variações, de forma que a silaba poderá ser substituída por outra ou por nomes, comprovando-se que, mesmo brincando, as crianças podem aprender novas sílabas, conhecer o nome dos colegas e com que letra começa este nome, estimular ainda, noções de espaço-tempo, o giro, a força, o equilíbrio e a velocidade, de acordo com o que pede a letra "...ba, be, bi, bo, bu./ vamos todos aprender (bis) / soletrando o bê-a-bá / na cartilha do a-b-c (bis) / o "m" é uma letra que / se escreve no a-b-c (bis) / oh ! Maria, você não sabe / como eu gosto de você."
As cantigas de roda são instrumentos preciosos para a educação musical da criança, mas o professor de Educação Física poderá utilizá-las, também, para estimular o desenvolvimento de várias outras habilidades psicomotoras, bem como para a discussão do conteúdo das palavras, o que oportunizará à criança o exercício de sua capacidade crítica e de seu raciocínio lógico.
Entre outras temos uma brincadeira que pode ser muito bem explorada, que é o brinquedo cantado "samba lelê", cuja letra diz: "... samba-lelê está doente / está com a cabeça quebrada / samba-lelê precisava / de umas dezoito lapadas / samba, samba, samba, ô lelê (bis) / pisa na barra da saia ô lelê / ô morena bonita / como é que se namora ? / põe o lencinho no bolso / deixa a pontinha de fora./ refrão / ô morena bonita / como é quer se casar ? / põe o véu na cabeça / dá o fora de casa./ refrão / ô morena bonita / como é quer cozinha ? / põe a panela no fogo / vai conversar com a vizinha. / refrão / ô morena bonita / onde é que você vai morar? / moro na praia formosa / dou adeus e vou embora." Vê-se portanto, que o brinquedo, mesmo sendo popular, tem um pouco de agressividade.
O brinquedo cantado traduz o cotidiano de muitas crianças, que quando caem, obviamente sem querer, são espancados pelos pais, revivendo a condição histórica do período da escravidão. A escola, trabalhando com essas canções, pode levantar questões como violência familiar, discriminação social, questões de gênero, autoritarismo e tantos outros.
Uma canção encontrada dentro das escolas e também cantada nas comunidades é a Rebola bola, que diz: "eu sou mineira de minas / mineira de Minas Gerais / sou carioca da gema / carioca da gema do ovo / rebola bola, você diz que vai que dá / você diz que dá na bola / na bola você não dá." Mesmo reconhecendo que a originalidade das letras, o professor poderá explorar as questões geográficas e a importância política da proximidade dos estados. Pode-se considerar a brincadeira do "rebola bola" tipicamente feminina, pois exige em sua prática o ato de rebolar. Deve-se explorar a lateralidade, a direcionalidade e a expressão corporal.
O brinquedo cantado Laranja madura, o que representa o ciclo da laranja, responsável pela sua grande produção e exportação, retrata as crianças cantando nos plantios de laranja, quando acompanhavam seus pais: "Que bela laranja / madura ô menina / que cor são elas / elas são verde e amarela / se vira 'fulano' / que é cor de canela." Ao fazer esta atividade, as crianças se apropriaram dos nomes de todos, pois a cada repetição do verso é ressaltado o nome de cada um dos participantes. Na ótica da Educação Física, a lateralidade é trabalhada como também a mudança de direção, quando se trata de direcionalidade. A criança, ao girar, formará o conceito corporal sobre o deslocamento, transferido para algumas habilidades da escrita e da manipulação de pequenos objetos.
A Machadinha é aqui representada por uma menina, que fica no centro, com as demais crianças se posicionando em círculo, girando e cantando a seguinte canção: "ai, ai, ai, minha machadinha (bis) / quem te pôs as mãos / sabendo que és minha,/ se és minha eu também sou tua (bis) / pula machadinha para o meio da rua (bis) / no meio da rua não hei de ficar (bis) / porque tenho "fulano" para ser meu par." A própria letra traduz, a questão das relações, ou seja, uma mulher foi abandonada no meio da rua porque alguém a toca, porém outra pessoa acreditou na sua fidelidade e ficam com ela, dando-lhe comida, moradia e amor. Neste sentido pode-se trabalhar os temas transversais nas questões de sexualidade, cidadania, prostituição infantil, gravidez indesejada e o significado de ser mãe solteira, como também discutir a responsabilidade do homem frente a estas questões, porque meninas não engravidam sozinhas. Em relação aos aspectos psicomotores, melhora-se as condições cardio-respiratórias, o ritmo, a musicalidade e a expressão corporal.
A brincadeira Pai Francisco, é mais uma dramatização cantada do que um jogo propriamente dito. As crianças se posicionam em forma de um semicírculo, cantando: "Pai Francisco entrou na roda / tocando seu violão, dorarão, dão, dão / vem de lá seu delegado / o pai francisco, vai prá prisão / como ele vem se requebrando / parece um boneco se desmanchando (bis)." Quando ele vem se requebrando e tocando o violão, entra no semicírculo e as crianças fecham, formando o círculo, e ele escolhe outra pessoa para ser o Pai Francisco. Nesta atividade, os temas trabalhados são: violência urbana, prisão, masculinidade e o potencial artístico das crianças. Quanto as questões corporais, a musicalidade deve ser explorada junta mente às com o ritmo da cantiga.
A brincadeira Passarás, ocorre com duas crianças frente-a-frente, de mãos dadas e braços elevados acima da cabeça, formando um arco. As demais formam uma fileira, cada uma apoiando-se no ombro do colega da frente. A primeira sai puxando todo o grupo, cantando: "licença, meu bom barquinho / licença, prá eu passar / eu tenho muitos filhinhos / não posso mais demorar / passarás, passarás / deixa eu passar / carregado de filhinhos / para eu criar / passarás, passarás / algum deles / há de ficar / se não for o da frente / há de ser o de atrás / trás, trás, trás, trás." A última criança será interceptada pelas duas outras, que formam o arco. Entretanto, as crianças integrantes do arco identificam-se entre si, com nomes de frutas ou de talheres, sem que as demais saibam qual seja. Como exemplo, pode ser "banana" e a outra "laranja", ou uma ser "garfo" e a outra "faca". A brincadeira termina, quando não existir mais criança na fileira. Vence aquela que obtiver o maior número de crianças, mesmo sem
saber porque escolheram uma das duas.
Com a atividade acima mencionada pode se trabalhar a questão do controle da natalidade e mortalidade infantil e os valores da família, fazendo-se uma relação do número de filhos que existia na família anteriormente com os dos dias atuais. Pode ser feita uma pesquisa junto à comunidade e logo após debata-se em sala de aula. A socialização é explorada, o poder de decisão e a livre escolha também é trabalhada.
Sapo Cururu, brincadeira originária das regiões ribeirinhas, onde este animal é muito comum, espalhou-se por todo o Brasil, e é bastante executada em comunidade próximas aos rios e principalmente no período das chuvas. Canta-se: "sapo cururu, / na beira do rio / quando o sapo canta, o maninha / é que está com frio ou sapo cururu / na beira do mar / quando o sapo canta, o maninha / diz que quer casar/ a mulher do sapo / diz que está lá dentro / tá fazendo renda, o maninha / pró seu casamento." É uma brincadeira de roda, com movimentos simples de girar. Todos de mãos dadas escolherão o direção dos giros. Explora-se a coordenação motora geral, a lateralidade e as noções de espaço-tempo. A professora pode associar os conteúdos de Geografia e Ciências, buscando identificar as situações geográficas, o rio, local onde vive o sapo, enquanto ciências pode explorar as condições do ecossistema, a função do sapo para o equilíbrio da natureza, além de estudar seu ciclo alimentar e suas funções orgânicas e
anatômicas.
As cantigas de roda são instrumentos pedagógicos importantes para a educação musical da criança, mas o professor de Educação Física poderá utilizá-las além do desenvolvimento das habilidades psicomotoras, devendo conduzir a discussão dos conteúdos para a leitura e a escrita, o que oportunizará à criança o exercício de sua capacidade crítica e do seu raciocínio lógico. Brincadeiras de roda como as que foram citadas, contribuem para o exercício da voz, da direcionalidade, da noção de círculo, da atenção e da motricidade. Como é perceptível nas letras destas brincadeiras, o regionalismo e a cultura do lugar, se fazem sempre presentes. Convém aproveitá-las para questionar as crianças sobre os gestos feitos durante as atividades e se serviriam para serem feitos em outros locais e em outras situações. Um tema como Ecologia nas áreas de Geografia e Ciências pode ser explorado sem dificuldades.
Além das brincadeiras de roda, existem as brincadeiras de rua, que contém um caráter competitivo ou eliminatório. Mas o que pode chamar atenção é a forma democrática da escolha daquele que vem a ser o primeiro nas brincadeiras. O jeito de escolher é muito simples, através de frases e pequenos versos, tais como: - "panelinha de ioiô / foi no mato e se afundou / testo, panela, / bolor, Fé dou ! / - fui a lata de biscoito / tirei um, tirei dois,/ tirei três, tirei seis, / tirei sete, tirei oito, / tirei nove, tirei dez ! ... / - fui andando no caminho / encontrei uma coruja. / pisei no rabo dela, / me chamou de cara suja. / - você quer brincar de pique ? / e de pique, picolé. / quantos piques você quer?" A criança dirá um número que corresponde às batidas no ombro ou na cabeça: - "minha mãe mandou dizer. / que eu tirasse a letra u. / quem está fora sou eu ou tu." Utilizando estes artifícios, é escolhido aquele que iniciará a brincadeira.
O Brincar de voleibol está diretamente relacionada ao jogo do Voleibol, existindo algumas diferenças em relação às regras oficiais e ao número de participantes do jogo. No primeiro caso, as regras são construídas pelos próprios participantes, estimulando a participação e a interatividade deles no jogo, enquanto que no segundo caso este jogo é quase sempre realizado com muitas crianças, o chamado voleibol gigante. Vence a equipe que obtiver o maior número de pontos na partida. Poder-se explorar com esta atividade noções lógico-matemáticas, noções de espaço-tempo, trabalho em grupo, solidariedade, companheirismo e cooperação. O professor pode associar o jogo a conteúdos da matemática e assim estabelecer conceitos lógicos do raciocínio.
Brincar de basquetebol está diretamente relacionada ao jogo do Basquetebol, existindo algumas diferenças em relação às regras oficiais e ao número de participantes do jogo. No primeiro caso, as regras são construídas pelos próprios participantes, estimulando-se a participação e a interatividade deles no jogo, enquanto no segundo caso, este jogo é quase sempre realizado com muitas crianças, quando ocorre o chamado basquetebol gigante. Vence a equipe que obtiver o maior número de pontos na partida. Nesta atividade, além se poder explorar noções lógico-matemáticas, noções de espaço-tempo, trabalho em grupo, solidariedade, companheirismo e cooperação, como ocorre na brincadeira anterior. Pode-se apresentar ainda, concepções das políticas sociais, relacionar as jogadas, com o jogo social e levar a criança a pensar nas relações interpessoais de forma mais crítica e impessoal.
Brincar de Boneco é uma brincadeira tipicamente infantil, onde a criança utiliza o objeto 'boneco', de forma livre, esquematizando e criando histórias do seu imaginário, geralmente retratando o cotidiano de sua casa ou da rua onde mora. Muitas vezes estes bonecos representam tematicamente uma personagem produzida pela mídia: um super herói ou uma figura de desenho animado. A criança brinca, construindo suas histórias e dando vida a cada um dos bonecos, aprimorando os aspectos cognitivos, psíquicos e os processos criativos quando exercita estas funções motoras.
O professor pode propiciar aos participantes a construção de conceitos, argumentos e resolução de algumas situações-problema. Fazendo-se uma análise dos dias atuais, vê-se que são poucos os alunos que constroem seus próprios bonecos, porque a indústria dos brinquedos propicia sempre novos modelos de bonecos que representam os ídolos infantis: desenhos animados, apresentadores de programas de televisão, cantores, o que causa limitação na criatividade da brincadeira do boneco.
Brincar de Carrinho não tem uma regra específica. A criança se apropria do objeto 'carro' e com outras crianças brincam livremente, criando situações semelhantes àquelas que ocorrem no cotidiano do trânsito. Desta forma o imaginário infantil cria e recria situações diversas. A escola pode se apropriar desta brincadeira tão significativa, e introduzir o conteúdo Educação do Trânsito, estabelecendo uma linha direta com as relações sociais. Vê-se também que o ato de construir e de reconstruir estão muito presentes na brincadeira, como também, as noções de direcionalidade, o conceito lógico-matemático e de espaço-tempo podem ser objetivados durante o exercício da atividade.
A brincadeira de Tampinha Cross, ocorre em uma área de areia, onde será construída uma estrada, demarcada por uma largura de um tijolo, com curvas, obstáculos e pontes no percurso. Cada criança será responsável por uma tampa de garrafa (tampa de material de lata). Para iniciar a brincadeira, os participantes definirão as regras do jogo e em um sorteio define-se quem inicia a corrida das tampas, ou seja, a criança arremessará a tampa com o seu dedo indicar flexionado ao polegar com uma certa força e a tampa será deslocada dentro da demarcação da estrada. Caso a tampinha caia fora da estrada, o segundo jogador iniciará o percurso fazendo o mesmo gesto, e assim sucessivamente. Ganhará a corrida aquele que primeiro alcançar o limite da chegada, ultrapassando sem erro todos os obstáculos. Como nesta brincadeira a criança utiliza-se dos dedos das mãos, pode-se constatar que a coordenação motora específica e a coordenação óculo-manual são exploradas. Com este exercício, pode-se transferir estes aprendizados para o processo da escrita e assim estabelecer relações com o andar, o falar e o manipular outros objetos.
A brincadeira de Elástico é realizada com um elástico, amarrado nas duas extremidades, formando um grande círculo. As crianças posicionam-se uma de frente para a outra, segurando o elástico em suas pernas na altura do tornozelo. Uma terceira criança, saltita entre os elásticos buscando criar movimentos de saltos mais complexos, sem que ele solte de suas pernas. Caso o elástico solte das pernas de quem esteja pulando, é considerado erro e entrará outra criança em seu lugar. O salto é o elemento principal deste aprendizado. Mesmo reconhecendo que a interação ocorre, ressalta-se os movimentos complexos que a própria atividade exige. Nesta condição o professor explorará os conceitos de tamanho, distância, largura, interior e exterior.
A brincadeira Futebol, é praticada em um campo, com uma bola e duas traves eqüidistantes em suas extremidades. Um grupo de crianças é numericamente dividido em partes iguais, onde cada grupo objetivará fazer gol na trave contrária. Ganhará aquele grupo que fizer mais gols. As regras deste popular jogo são construídas a partir do entendimento dos participantes. Pode-se explorar com esta atividade a coordenação óculo-pedal, noção lógico-matemática, de espaço-tempo, trabalho em grupo, solidariedade, companheirismo, cooperação e direcionalidade. As associações e concepções são as mesmas trabalhadas na brincadeira do basquetebol.
A brincadeira Baleado, é praticada em campos, pátios, quadras e ruas. Sua composição se dá por dois grupos numericamente iguais, onde cada grupo arremessará a bola na tentativa de acertar o companheiro do outro grupo. Caso acerte, o 'baleado', passará para uma área demarcada no fundo do campo, com possibilidades de combinações com seu grupo. Quando não se baleia, o time ficará com posse de bola e fará o arremesso para balear um outro do grupo contrário. Ganhará aquele grupo que balear todos os participantes do grupo contrário. Trabalha-se o espírito de companheirismo, ajuda mútua e as estratégias em relação às situações surgidas durante o jogo. Em relação aos aspectos motores explora-se o deslocamento corporal, o arremesso e a força, bem como as habilidades de destreza e percepção.
5 toques ou 3 cortes. Todos os participantes ficam em círculo, com uma bola, preferencialmente de voleibol, passando a bola de um para o outro apenas com o toque. Completados os cincos toques, o participante seguinte terá de dar um corte na bola, usando de força suficiente, em direção ao companheiro participante. Caso o companheiro não consiga colocar a bola em jogo novamente, ou seja, deixe a bola cair no chão, sairá da brincadeira. Assim o vencedor será aquele que conseguir fazer o corte final. Pode-se constatar que o toque e a coordenação óculo-manual são bastante trabalhados. Neste caso, observa-se a apropriação das noções de matemática em relação aos conteúdos, como soma, questões numéricas, valores numéricos etc.
A brincadeira de soltar pipa é uma atividade milenar, com registros encontrados a partir de 430 -360 a.C., na Grécia. Há 2.200 anos, a pipa era usada pelos Chineses como meio de sinalização durante as batalhas. Na brincadeira de pipa a criança é levada a confeccionar o brinquedo, a pipa, utilizando, papel seda, cola, linha, barbante e palitos da palha de coqueiro. O formato, cada um cria, com um jeito especial para fazê-la voar, dependendo da habilidade de quem confecciona. Nesta brincadeira a criatividade é bastante explorada, a coordenação motora, e a noção espacial. Os professores podem explorar alguns conceitos de Geografia, artes e ciências por meio desta brincadeira.
Uma atividade hoje considerada popular no meio educacional, é uma variação do toca, denominada de Polícia e Ladrão. Uma criança é escolhida, geralmente para passar a pedra (colocar uma pedrinha, em uma das mãos) e as outras crianças tentam acertar a mão da criança escolhida que não esteja com a pedra. A polícia será aquele que por último ficar com a pedra. O que ficou com a pedra grita "já" e todos saem correndo, livrando-se da polícia. Caso o perseguidor, que é "o toca", toque no colega, este se tornará polícia e ajudará a tocar nos demais. Desta maneira todos poderão ser "a polícia". A velocidade de reação e de deslocamento, a força dinâmica, resistência anaeróbica e aeróbica, ritmo e agilidade, todas estas qualidades são estimuladas com esta simples brincadeira, como também, o esquema corporal e a socialização.
Uma outra atividade hoje considerada popular é uma variação do toca, denominada de Menino pega Menina. O grupo é dividido em dois, um formado de meninos e outro de meninas. Duas crianças são escolhidas, geralmente para passar a pedra (colocar uma pedrinha em uma das mãos) tentando acertar a mão da criança escolhida que não esteja com a pedra. O que ficou com a pedra grita "já" e todos saem correndo, livrando-se do outro grupo. Caso os perseguidores, que são "os tocas", toquem no colega, este se considera preso e vai para um local previamente definido. As qualidades estimulados são as mesmas de atividade anterior.
O patacho é uma pedra achatada, onde duas ou mais crianças, cada uma com um "caco" (pedaço de pedra achatada), risca no chão um traço, chamado de marca. Cada qual, joga o caco para a marca, aquele que jogar mais próximo da marca começará a brincadeira.
Esta brincadeira tem o seguinte procedimento: todos perseguem um ao outro, tentando "ticar" (bater) um "caco" no outro. Caso o "caco" seja "ticado", o dono do caco será eliminado da brincadeira. O vencedor será aquela criança que ticar em todos. Nas brincadeiras de "patacho" como na de "bola de gude" ocorrem os estímulos para a percepção visual, a coordenação óculo-manual e a atenção.
Outra brincadeira é a de Pião, temporária e coletiva. O pião é um pequeno objeto feito de madeira, tendo na ponta um prego - ferrão. É um implemento da ludicidade infantil, do jogo de pião. esta atividade foi recreativa introduzida no Brasil pelos Portugueses, mas, desde os mais remotos tempos da humanidade sabe-se da sua existência, na Grécia, em Roma e até os dias atuais o pião vem distraindo as crianças das mais variadas classes sociais. Cada participante deve possuir um pião e a respectiva ponteira. O grupo determina o número de jogadas (cabestrada) que cada participante dará no pião do perdedor. É feito um círculo no chão de aproximadamente 15 cm. de raio. Cada participante lançará seu pião que deve atingir o círculo e continuar rodando. Se todas as crianças jogarem e acertarem o círculo, será feito um novo círculo, agora menor, para assim aumentar o grau de dificuldade do acerto.
Quando um participante erra o círculo ou seu pião não cai no chão rodando este será "o boi". Seu pião fica no centro do círculo e as demais crianças lançam os seus de forma que o pião perdedor, "o boi", seja empurrado (tangido) até o buraco. Nesse buraco, cada participante joga o seu pião, agora "bicando" o pião perdedor no número de "cabestradas" combinado no inicio do jogo. Se ao tentar tanger o pião perdedor para o buraco, o jogador errar, seu pião tomará o lugar do pião perdedor. A criança que estava fora volta então a jogar. Portanto, antes de começar a brincadeira, as crianças costumam definir se os piões (do perdedor e dos demais) poderão ser substituídos durante o jogo ou se valerá afiar os bicos dos piões para dar as "bicadas."
Esta brincadeira acima, estimula o aspecto psicomotor conjuntamente com a coordenação motora fina, a organização espaço-temporal, a agilidade, a direcionalidade, a flexibilidade, o equilíbrio estático, a velocidade dos membros superiores, a força dinâmica e por fim o descobrimento da sua consciência crítica quanto ao esquema corporal, como também um excelente instrumento para fortalecer os músculos dos dedos e assim facilitar o processo da escrita.
Alguns jogos nunca se acabam, como por exemplo, o de Bola de Gude. Tudo indica que os jogos com bolas de gude tenham sido inventados na pré-história pelos ancestrais do homem moderno. Há milhares de anos, o jogo se espalhou pelo mundo, atravessou continentes e chegou à América com os navegadores espanhóis e portugueses, no final do século XV e início do século XVI. Para brincar de Bola de Gude as crianças necessitam de uma bola-de-gude (de fone, cobrinha, bila, biloca, ximbra, etc.). Faz-se no chão um "bura" ( buraco ) com o calcanhar, seguido por um círculo, feito com a ponta do dedão do pé.
As crianças jogarão suas bolas, na direção do "bura"; a mais próxima, começará a brincadeira, fazendo o "bura". Feito, tornar-se-á o "mata". Os demais que ainda não fizeram o "bura", serão os "fedas", que fugirão da perseguição do "mata" e tentarão fazer o "bura" para tornarem-se "mata" também. A vencedora será aquela criança que eliminar a todas. A atividade "bola de gude" desenvolve na criança a atenção e a coordenação motora específica, facilitando o processo da escrita, bem como o exercício sócio-cultural das ações entre dominados e, dominantes, e por fim, o aspecto de cooperação entre os homens.
A Academia é uma brincadeira onde as crianças utilizam o chão onde desenha-se um círculo, chamado de "terra"; em seguida, na borda do círculo, desenha-se um quadrado, seguido de outro quadrado. Feitos estes dois quadrados, desenha-se um retângulo, dividido ao meio, com o formato de uma "asa". Por fim, desenha-se um quadrado e um círculo, chamado "lua". A brincadeira inicia-se com a criança portando um caco de telha ou pedra, que joga no primeiro quadrado, saltita com uma perna só sobre todos os quadrados, sobre o retângulo e o círculo, exceto sobre o quadrado em que está o caco. Na volta, pega-o com uma das mãos, firmando-se apenas em um pé. O retângulo serve para o descanso, podendo-se ficar com um pé em cada parte. Após ter passado por toda a "academia" (quadrados, terra, lua ...) o jogo reinicia-se com a criança jogando o caco de costas e seguindo os mesmos passos da etapa anterior.
Se o caco cair fora do lugar ou se a criança pisar nas linhas, a brincadeira será interrompida e passada para outra criança. A criança que errou, quando chegar novamente a sua vez, reiniciará a partir de onde cometeu o erro. O vencedor será aquela criança que concluir a academia primeiro. A coordenação motora global, a lateralidade, a direcionalidade, o equilíbrio dinâmico e estático e a flexibilidade são estimulados na prática da brincadeira de "academia". Para a escola é de grande utilidade nas áreas de matemática, para se explorar as figuras geométricas a Comunicação e Expressão, pois auxilia o aprendizado da separação de sílabas.
A brincadeira de Pular Corda, é uma atividade geralmente coletiva, na qual usa-se uma corda, grande ou pequena, com duas crianças segurando as pontas e começam a bambear para uma ou mais crianças saltarem. Essas devem entrar com a corda em movimento, sem tocá-la. As variações desta brincadeira de "corda" são: "zerinho" (todos devem passar correndo sem que a corda toque), "relógio" (passa um por um, sendo que cada um pulará no sentido da hora de um relógio), "passeata" (andar pulando de um lado para outro), "foguinho" (bater a corda o mais rápido possível), etc. Com relação às habilidades solicitadas neste exercício, o salto é mais solicitado que a velocidade de deslocamento e a regularidade rítmica é um componente importante, havendo, portanto, uma exigência elevada de coordenação temporal. As repetições de saltos desenvolvem a resistência e a força da criança.
Na brincadeira do Toca, a criança é escolhida, geralmente para passar a pedra (colocar uma pedrinha em uma das mãos) Cada criança tenta acertar a mão da criança escolhida que não esteja com a pedra. O "toca" será aquele que por último ficar com a pedra. O que ficou com a pedra grita "já" e todos saem correndo livrando-se do "toca". Caso perseguidor, que é "o toca", toque no colega, este será o novo "toca". Desta maneira todos poderão ser "o toca". A velocidade de reação e deslocamento, a força dinâmica, resistência anaeróbica e aeróbica, ritmo e agilidade, todas estas qualidades são estimuladas com esta simples brincadeira, como também, o esquema corporal e a socialização.
A brincadeira Esconde-Esconde, é formada por um grupo de crianças, onde uma é escolhida seguindo uma das formas já citadas neste estudo, para procurar o grupo, que correrá e esconder-se-á nos mais variados lugares. É determinado pelo grupo um local onde, ao tocá-lo possam ser salvos, chamado de "mancha". Feito isto, todos irão se esconder. Quando o último estiver escondido, gritará, chamando o "procurador". Ao avistar um dos integrantes este diz: - "achei fulano de tal!", e correm os dois ou os demais, até a "mancha". Caso o "procurador" não chegue primeiro, continuará como "procurador". Quando todas as crianças forem encontradas, o "procurador" será aquele que tocar na "mancha" primeiro. Nesta brincadeira, a socialização e a percepção espaço-corporal, tendo como princípio a organização espaço-temporal estão sendo estimuladas de forma a oferecer às crianças condições para uma boa convivência harmônica entre elas.
O brincar de Boca-de-forno, ocorre com um grande grupo de criança. Uma delas é escolhida por um método democrático criado por elas. A criança escolhida chama: - "boca-de-forno ! / - forno ! (responde o grupo) / - tirando bolo ! / - bolo ! (todos) / - abacaxi ! / - xi ! (todos) / - onde eu mandar ? / - vou ! (todos) / - o senhor mandou dizer que ...". As crianças correm para o local indicado e voltam com a resposta do pedido. Esta brincadeira pode ser aproveitada para questionar o fator liderança, as relações históricas como ocorriam no período colonial, podendo ainda explorar as questões interdisciplinares da escola. O ritmo, a velocidade, noções de tamanhos, cores e formas, são desenvolvidas com a prática de "boca-de-forno".
Galinha Gorda é uma brincadeira que as crianças reúnem-se dentro d'água, numa praia, num rio, num açude, etc., porém, em especial nos rios. Esta brincadeira é muito popular na região canaveira e agrícola (Santa Rita e Conde), onde existem muitos rios perenes. Uma das crianças fica destacada com uma pedra na mão. Esta pedra na brincadeira é chamada de "galinha gorda". A criança que está com a pedra inicia a brincadeira, gritando: - "galinha gorda! / - gorda é ela! (responde o grupo) / - vamos comê-la? (pergunta a criança que está com a pedra) / - vamos a ela! (responde o grupo)." Neste momento a criança joga a pedra na água e o grupo mergulha à procura da "galinha gorda". Aquele que encontrar primeiro a pedra, será o próximo a jogar a "galinha gorda" para o grupo procurar. A resistência aeróbica e anaeróbica, o ritmo, a organização espacial e temporal e os procedimentos da natação são estimulados nesta prática.
Com a brincadeira do Anel, os participantes ficam sentados, um ao lado do outro, de mãos postas. Um deles, selecionado por qualquer modo de escolha dos que foram sugeridos antes, tendo dentro das mãos, juntas e fechadas ao comprido, um anel, passa suas mãos dentro das mãos postas de todos os outros participantes: "Com quem está o anel?" Se a pessoa a quem foi feita a pergunta responder certo, tomará o lugar de quem passou o anel. Se responder errado, quem estiver com o anel se identificará e terá o direito de passá-lo. Esta brincadeira geralmente se faz a noitinha ou quando todos estavam chegando da escola à tarde. Para as crianças, esta brincadeira facilita o encontro, o toque, a socialização e a troca de experiências nas conversas sobre o dia e a escola. A motricidade e a percepção corporal são trabalhadas, dando uma harmonia funcional ao corpo.
Na brincadeira de Estátua, uma criança é escolhida para colocar às demais em forma de estátuas. Esta criança, coloca as outras em diversas posições e tenta fazê-las sorrir fazendo gracejos, cócegas etc.. Vence a criança que resistir e não sorrir, nem se mexer. Nesta brincadeira, pode-se trabalhar o equilíbrio interno e a expressividade corporal, além de se explorar os signos corporais que são retratados no permanecer estático.
Adedonha, expressão criada entre as crianças, que significa, mostrar os dedos. É uma brincadeira que acontece entre duas ou mais crianças. Cada uma ficará com um papel, que contém uma tabela com vários nomes como: ator, cidade, rua, atriz, filme, novela, acontecimento histórico e tantos outros que forem estabelecidos pelos participantes. A brincadeira inicia-se com todos expondo seus dedos simultaneamente. Conta-se quantos dedos têm e relaciona-se com a letra do alfabeto correspondente, (se forem quatro então a letra correspondente é D). Definida a letra, todos terão de preencher a tabela escrevendo palavras que comecem com a letra escolhida. Vence a brincadeira aquele que tiver maior número de palavras na tabela. Com esta atividade podemos melhorar o intelecto da criança, ampliar os conhecimentos culturais, como também os aspectos geográficos, artísticos, políticos e sociais, além de exercitar noções matemáticas.
O brincar de Maestro se faz em um grupo de crianças, onde um é escolhido para se retirar do grupo, ficando distante dos demais. Ao se retirar, aqueles que ficaram escolherão um para ser o maestro, aquele criará movimentos corporais que todos terão que seguir, observando que quando ele mudar de movimento, todos mudarão simultaneamente. Feito isto, chama-se aquele que estava fora para ficar no centro, já que todos estão em forma de círculo. Os movimentos mudam até o maestro ser descoberto e ir para o lugar do que estava no centro, retomando outra vez a brincadeira. Com esta atividade podemos explorar as noções de coordenação motora específica, a acuidade auditiva, visão lateral, como também os aspectos viso-motores e noções de ritmo.
A brincadeira de Lobo Mau, originária da literatura mundial, é composta de um grupo de crianças que escolhe uma para ser o "lobo mau". Ele se esconde e as demais crianças passeando, cantam - "vou passear na floresta enquanto seu lobo não vem/ tá pronto seu lobo? - a criança que é o "lobo" começa fazer suspense, e diz que está calçando a meia, depois o sapato, a cueca, o calça, a camisa, penteando o cabelo. Quando se encontra pronta, corre em direção às demais e aquela que for pega se tornará o lobo. Quando a criança pratica esta atividade, pode explorar as questões sociais, como por exemplo a relação dos valores (poder), a negligência familiar e a responsabilidade infantil precoce. Nos aspectos psicomotores, pode-se trabalhar noções de espaço-tempo, força, resistência, acuidade auditiva, percepção, velocidade e agilidade.